segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Fome - Você tem fome de quê?

  


Um dos livros mais chocantes de que li durante toda a minha vida como leitora, enquanto eterna estudante foi Vidas secas de Graciliano Ramos, publicada em 1938,o escritor brasileiro nesta obra me trouxe uma sensação de impotência e desconstrução.

É tão intensa e significativa em dois pontos que nos fazem repensar sobre as nossas perceptivas enquanto seres humanos e a real pobreza que vem nos arrastando ao longo de nossas vidas e que se perde quando nos desconectamos da realidade.

Diante de tantos dados assustadores sobre a fome no Brasil e no mundo, eu me perco num olhar doloroso e quase sem palavras,e buscando a melhor definição, mas nenhuma  seria comparada o que de fato é.

Enquanto algumas milhares de pessoas estão com suas vidas comuns, entre os poucos milionários no mundo outras centenas de milhares de pessoas sentem fome, e não é só a fome, é a privação de quase todo necessário.

Só no Brasil são mais de 33 milhões de pessoas, estas vivem em situações deploráveis , e nenhuma cena ou retrato conseguiria definir em sua complexidade.porque ela se estende a todos os dias, sim, todos os dias estão com fome e todos os dias nós passamos por esses dados sem nos darmos conta ou mesmo como resolver, porque não depende de um único Estado, um único poder, se trata de cuidarmos de todos nós no sentido mais íntimo da palavra.

Eu estou dizendo sobre a fome concreta, essa falta de alimento, a falta de nutrientes para que o corpo físico sobreviva, e se pudermos aprofundar e detalhar mais sobre isso corremos o risco de cairmos em total desespero , porque há nessas milhares de pessoas crianças e idosos que morrem de fome diariamente, e os números aumentam a cada dia em decorrência das guerras que dificilmente serão resolvidas.

A falta de alimento não só trás a tona as nossas formas egoístas de viver, a fome retrata a nossa falta de humanidade e aprendemos com ela que estamos longe de sermos civilizados.

A fome trás a nós a consciência de que somos uma massa concreta de pessoas que não se importam, pessoas que vivem nas redes sociais mascaradas e hipnotizadas por uma tecnologia que deveria nos socializar e nos aproximar e ao invés disso retrata o que mais me aterroriza, a falta de amor.

Não é só uma matemática, é a filosofia que vivemos hoje,  que o capitalismo nos trouxe alguns avanços mas aumentou de forma trágica as nossas diferenças e nos afastou da viva em comum , do cuidado uns dos outros, não estou falando que o capitalismo seja uma coisa ruim, estou dizendo que estamos cada vez mais competitivos , invejosos, egoístas e camuflamos tudo isso nas redes sociais, o que é lamentável.

Antigamente dizíamos: " O que a mão direita faz a esquerda não precisa saber ", bem, também acredito nessa privacidade, mas será que agora diante de tantas atrocidades sofridas não está na hora de compartilharmos as nossas boas ações para que elas sejam contagiantes a ponto de todos fazerem a sua parte enquanto seres humanos ou estamos mergulhados a tanto egoísmo que somos incapazes de pensar no outro de forma humanizada?

Por incrível que pareça, quando fazemos uma campanha do "quilo" as pessoas mais vulneráveis, são justamente as que mais doam, por uma única razão, essas pessoas sabem como é a escassez, sabem o real problema da falta do que comer, e o mundo caminha com passos lentos.

E venho sempre me fazendo a mesma pergunta: Eu tenho fome de quê?

Tenho fome de solidariedade, de mais amor e de mais fraternidade.

Para sermos humanos não se trata apenas dos nossos traços fisiológicos mas de quem deveríamos, mais amorosos com aqueles que merecem, somos capazes de fazer muito pelos que necessitam e precisamos nos dar conta dessa responsabilidade moral, a caridade está sendo necessitada e senão tivermos essa consciência humana estaremos entrando em novas guerras e podemos acabar com o único lugar onde precisamos estar, em nosso lar estelar, com a nossa família, com as pessoas e seres que amamos.

O que podemos fazer?

Trabalho de formigas, ensinar as novas gerações a solidariedade, o respeito e através de bons exemplos a prática da caridade.

Esse é o grande milagre dos peixes exemplificado no evangelho na figura de Jesus, e seus apóstolos, e  outros mestres em diferentes pontos de nosso Orbe, enfim, não nos falta exemplos, nos falta apenas a ação...

O nosso socorro não virá de outros orbes, não vai ser fugindo que resolveremos um problema como a falta de humanidade, a solução está dentro de nós por todos nós.

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