domingo, 2 de outubro de 2022

Sinhazinha - página 3

  



Sinhazinha estava crescendo católica, mas não deixara de pensar em seus amigos escravos. Dentre eles estava Estevão, um preto grande e bem robusto, cheio de más intenções a menina, ele tinha o nome de santo dado pelo Antônio, o Senhor das terras, ele olhava para Sinhazinha e ela tinha medo dele, Messias, seu irmão amado, deixara sempre ele diante de seus olhos, a protegendo sempre, eram irmãos, ela o amava profundamente, e Geralda sempre apoiava essa amizade de irmãos , Antônio estava bêbado, estava sempre molestando as escravas mais jovens na fazenda , Sinhazinha tinha muitos irmãos, filhos também de Antônio que ele renegava e isso deixava todos os escravos ali raivosos ou temerosos.

Antônio pensava que nada poderia acontecer já que era católico e branco, Sinhazinha via o pai de longe triste, seus olhos umedeciam ao ver o sofrimento, mas obedecia seu pai. e isso era para ela uma coisa boa, sentia um grande amor por ele, queria estar por perto mas Antônio com o tempo passou a rejeitar a filha, Luzia sentia uma estranha saudade de mãe que não conhecera, sentia em Geralda a sua mãe, sentia que Geralda era a sua mentora , muitas vezes abria a porta a noite para que Geralda dormisse com ela, tinha medo de escuro, e Geralda passara a noite ao seu lado, Messias dormia no chão ao seu lado, estava acostumado, mas a mãe Geralda o aquecia com seu corpo, o abraçava , os três ali estavam unidos pela fraternidade.

Luzia sentia seu coração pulsar, sentia necessidade de crescer rápido, seu pai estava cada vez mais envolvido com a bebida e seus dias se resumiam à dor e a explorar os escravos, a menina sempre procurava o pai, tentava imitá-lo ao máximo, muitas vezes a menina repetia exatamente os gestos do pai, Geralda a corrigia e Messias sempre estava por perto, era como um anjo da guarda a protegendo e os dois se tornavam grandes amigos, irmãos.

Geralda gostava disso, mas Luzia sentia falta do pai, e ela sempre o via bêbado entristecendo e se tornava cada vez mais violento, isso a deixava sozinha nos cantos, sentia que o pai não a amava e isso fazia ela tentar estar ao seu lado mesmo sabendo que não era uma boa coisa a fazer, o amor que ela tinha por ele, era o que a deixava próximo a ele.

Luzia cresceu amando Messias, seu pai ficara preocupado com essa amizade e a mandou para estudar num colégio interno em Portugal, assim ele pensara que iria separar um amor tão fraternal, então Luzia partiu, sua vida na fazenda se perdera em meio do caminho, vivera sempre cercada de amigos e agora se sentia sozinha e amargurada porque em seu íntimo seu pai não a amara, apenas cuidava dela, sofria a ausência do pai e da sua família negra.

Chegara em Portugal aos 12 anos de idade, era uma menina linda e chamava muita a atenção de todos os olhares.

Luzia era sozinha, perdera a alegria de viver, agora estava presa a quatro paredes de um quarto num colégio eclesiático, estava se sentindo solitária , não se esquecia nunca de quem deixou no Brasil.

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