domingo, 18 de agosto de 2024

Livro de contos- E se ...

 



Era uma vez um livro, era uma vez um leitor curioso e era uma vez um narrador ainda mais

curioso.

Pedro era um leitor assíduo e incansável, era um menino de dez anos que se deliciava ao ler

histórias de aventuras, um dia ao visitar a biblioteca encontrou numa estante quase vazia um

livro sem nome, capa preta e isso o motivou a folhear suas páginas amareladas e empoeiradas.

Abriu o livro timidamente, mas ao encontrar as primeiras palavras, sentiu algo estranho, as

palavras começaram a se movimentarem e quando se deu por si, lá estava ele, dentro do livro.

As figuras estavam paradas o que era esquisito afinal, ele estava dentro de um livro de

histórias o que já era estranho estar ali.

Pedro esfregou os olhos sem acreditar no que via, pássaros parados no ar, nem uma leve brisa,

as árvores tinham cores foscas, as roupas estendidas no varal pareciam pedados de papel, o

cabelo arrepiado da velhinha na janela e os gatos suspensos no ar.

Um detalhe lhe chamara a atenção, os personagens estavam com rostos assustados e olhos

muito arredondados, e sem narizes. Pedro coçou a cabeça sem entender o motivo dele estar

ali, o livro era por acaso um livro mágico?

Ele caminhou por um longo tempo e tudo continuava parado, mas algo no horizonte o chamou

a atenção, era um homem alto que balançava a cabeça, braços e pernas, era um daqueles

bonecos de posto?

Pedro andou em sua direção, mas seu movimento era tão devagar que logo se cansava, era

preciso respirar para continuar.

Pedro notou bem a sua frente um menino olhando para uma pipa no céu, que deveria estar

voando, mas ela estava ali parada, ele pensou estar vivendo um pesadelo, mas ele se sentia

bem acordado.

O menino nem piscava, não tinha nariz, apenas olhava para a pipa intacta no ar, Pedro curioso

se atreveu a perguntar, ele não esperava resposta alguma, mas perguntou mesmo assim:

__ Quem é você?

O menino para a sua surpresa respondeu:

__ Eu não sei, normalmente eu brinco com a pipa mas de repente tudo mudou, alguém parou

de descrever o que eu tinha que fazer.

__ Mas como isso é possível?

O menino disse ainda mais lentamente:

__ Estamos numa história, você não acha que as cenas deveriam estar em movimentos? Você

acha que ficar parado não cansa?

__ Há quanto tempo está assim?

__Desde que aquele louco ali chegou!


Pedro entendeu que não poderia ficar ali esperando mais uma resposta lenta do menino e

caminhou até o homem, seus movimentos causavam uma confusão mental no menino que

ainda acreditava estar vivendo num pesadelo.

__Senhor?

O homem olhou para o menino com um certo espanto.

__ O que foi menino?

__ O que está acontecendo aqui?

__ Nada, não está percebendo?

Pedro olhou para o homem que tinha um olhar vibrante, olhos pretos e grandes que pareciam

saltar do rosto.

Ele percebeu que assim como o menino da pipa. não tinha nariz, então ele tocou o próprio

nariz para ver se ainda tinha um nariz. Que alívio, ele tinha um nariz.

Mas por que o nariz seria importante para aquele momento, tudo já não era estranho? Ter um

nariz ou não, não parecia fazer diferença.

Pedro olhou para o céu e teve uma brilhante ideia e logo fez uma pergunta ao homem, o único

que estava ali e que se movimentava livremente:

__ O Senhor pode me dizer quem é o Senhor nessa história?

__ Eu não faço parte dessa história, eu sou o narrador, eu estava cansado de ficar só olhando.

Pedro ficou parado olhando para o narrador da história sem entender, mas como era um

menino experiente e aquela situação o deixou indignado e disse com uma voz firme:

__ O Senhor é algum maluco? Era só o Senhor narrar a história em primeira pessoa e acabaria

logo com essa confusão. De quê adianta ser o narrador se a história não pode começar e nem

terminar?

O homem de repente parou, ficou olhando para o menino inteligente e pequeno, sorriu e abriu

os braços para um abraço.

Voltaram caminhando para o início do livro.

O homem saiu pelas bordas do livro junto com Pedro que agora estava novamente na

biblioteca com o livro na mão.

O livro já não era o mesmo e nem Pedro e por maior que fosse a maluquice e que pensava em

ter vivido um pesadelo, ainda não conseguia racionalizar aquela situação, ode já se viu um

narrador se cansar de contar uma história?

Ele fechou o livro e olhou mais uma vez a última página para ter certeza que as palavras ainda

estavam ali, leu em letras miúdas no finalzinha da folha uma pergunta que o fizera pensar por

um longo tempo.

Como seria a sua vida sem a grandeza e a imaginação de um grande narrador do qual criou

tudo que existe?

Livro de contos - O caso Andreia

 

Livro de contos- O caso Andreia

 




Andreia acordou sem vontade, amanheceu com seus olhos inchados, tentava organizar a sua mente mas o que ela pensava estava longe de ser um pensamento comum.

Se levantou da cama com a mesma vontade de antes, de permanecer deitada, como uma múmia, mas ela precisava trabalhar, não poderia fazer nada além disso.

Pensava em como seria o seu dia, olhou diante do espelho e disse a si mesma que tudo iria ser diferente .

Saiu de casa, apertou o passo, ela não poderia perder o ônibus, e quando chegou na esquina de sua casa já não se lembrava se tinha deixado a porta aberta, então voltou para casa, a porta estava fechada.

Andreia tinha 40 anos, sua memória já não era a mesma, e apesar disso ela não se preocupava, ela já tinha a memória fraca, não estava fazendo muita diferença.

Quando chegou no escritório de advocacia onde trabalhava Andreia se lembrou que não tinha preparado a sua marmita, teria que comer no restaurante de novo, aquela situação já estava virando uma rotina, mas Andreia estava tranquila, o jeito era trabalhar sem ter tomado o café da manhã.

Passou a manhã com um barulho na barriga e na hora do almoço comeu no restaurante que ficava em frente o prédio onde trabalhava.

Depois do almoço ,ela ouvia as mesmas histórias de suas colegas de trabalho, ela era uma boa secretária, odiava fofoca, mas ouvia todas elas com muita atenção, fofocas era o que tirava as outras secretárias do estresse ,mas ela mesma não se estressava, atendia as ligações, agendava reuniões e pagava as contas, só isso e no final do dia voltava para casa no mesmo horário de sempre.

Andreia tinha uma vida normal, fazia coisas normais, mas naquele dia anterior, o que Andreia fez não foi muito normal, era como se ela tivesse “dado a louca”.

No dia anterior Andreia tinha saído do trabalho disposta a mudar a sua rotina, entrou no primeiro bar que encontrou e tomou um litro de cachaça, daquelas que arde até a alma, cantou no karaokê como se fosse o seu último dia de vida, e beijou na boca do primeiro homem que ela ousou olhar, voltou para casa de Uber depois da meia noite, deitou na cama com a roupa cheirando cachaça e cigarro e só acordou no outro dia.

Ela passou o dia pensando no que tinha feito no dia anterior, ela tinha gostado de fazer aquilo,, ela só queria esquecer um pouco dos problemas, mas esquecer não era problema para Andreia, se esquecia de tudo mesmo, era uma mulher esquecida, esquecida de si mesma.

Assim que ela chegou em casa ,abriu a porta e deu de cara com a sua realidade, no coração de Andreia havia solidão, não tinha namorado e nem muitos amigos, e ter feito aquilo, foi uma atitude ousada, ela queria mais.

Ligou para a sua mãe e conversaram durante alguns minutos, disse a ela que sentia saudades mas que o trabalho a deixava ocupada demais, e que os estudos tomavam o tempo que lhe restava.

Fez tudo que tinha que fazer, preparou a marmita para o dia seguinte, tomou um banho quente, foi mexer no celular, pensou em convidar uma colega do escritório para sair depois do trabalho, e dormiu, depois disso ,não acordou mais.

domingo, 11 de agosto de 2024

Desejos

 



 Quando abrir os olhos e ver que o céu está mais azulado e sol invadir a sua

casa deixando entrar a luz, lembre-se que cada dia se revela o encantamento e

a leveza em saberes divinos.

Sempre haverá um lugar onde pertencemos e que nos fazem sentir o

aconchego e a suavidade da vida. Nenhum olhar é distante do coração e nem

todos os olhares são para o mesmo horizonte, a grandeza da alma se estende

ao infinito porque vai além do que imaginamos ser maior. Se todas as dores

acabassem e as lágrimas só servissem para deixar vazar o que nos sufoca,

não aprenderíamos o sabor das conquistas e nem a felicidade do progredir.

Estarmos presos as amarguras é o mesmo que deixar de respirar e morrer

para as possibilidades e chances de viver outras alegrias.

Queria eu poder compartilhar todas as coisas que me mantém forte quando o

caminho parecer um labirinto escuro, eu ainda seria capaz de buscar a luz

onde ela pudesse existir.

O ser humano é o ser que compartilha si com o outro sem se dar conta que um

está no outro pelo simples fato de sentir afeto e pensar.

Quem dera eu me perder nós cabelos cacheados das fadas e nas brumas que

aceleram meu coração e me faz caminhar nos campos de girassóis que eu

imaginei nas histórias inventadas nos livros secretos que só eu sei as

palavras mágicas que as revelam.

Nem todos as canções encantam como os cantos dos pássaros livres nos

ninhos nas copas mais robustas das árvores mais altas, e nem as coisas mais

caras são tão belas como os sorrisos marotos das crianças que brincam de

esconder, como pode o mundo achar bonito o que o ser humano inventou para

iludir as almas vazias das pessoas que ignoram o valor dos amores sem as

ousadias e a generosidade do coração simples e sincero?

Eu queria sentir a brisa que as borboletas sentem quando voam sob os jardins

coloridos e selvagens .

Eu poderia me atrever a descobrir as passagens secretas nas cachoeiras e me

deliciar com o sabor das folhas verdes que embelezam as matas e nadar nos

rios límpidos raros que ainda existem e que teimam sobreviver.

O mundo pode ser primitivo em suas qualidades morais mas a leveza e a

beleza do aprender me faz querer tentar de novo todas as vezes que eu pensar

em desistir.

Gostaria de me manter segura e meus sonhos me dominassem até que eles se

tornarem reais e que me inspirassem a querer bem mais.

Todas as cores refletem a alma e se iluminam quando vibram dentro de nós, os

mais nobres dos homens ensinaram o valor do pensar, na alegria de respirar


com serenidade mas diante dos desconfortos de nossas guerras atrevidas e

sem amor o mundo morre com as sombras que nós mesmos cultivamos

quando deixamos que os sentimentos raivosos dominem nossa mente

desequilibrada.

Peço que todos orem por dias melhores e mesmo que os dias sejam cinzentos

ainda sim eu espero o melhor e nas canções inspiradas pelas estrelas

podamos acordar depois de longos pesadelos.

sábado, 10 de agosto de 2024

Depois de tudo - retratos de um abuso

 


 


Depois de tudo, os meus olhos ainda estalam.

A minha boca se cala, e as minhas dores ainda estão aqui.

Presa nas lembranças, nas palavras que não foram claras, elas apenas estão guardadas.

Um crime , uma dor que não se cala dentro e fora de mim.

Suas mãos ainda me machucam e me prendem à um passado que não é bom.

Sentada na beira do caminho, eu procurei a culpa dentro de nós dois.

Mas a sua culpa ainda me atormenta.

Os pesadelos não cessam e me calo diante das lembranças que eu deixei ficar.

Não me culpo pela revivência , ela é o que me mantém acordada.

Triste e só.

De olho no canto da parede.

Meus passos longos que os seus passos alcançaram.

Deixou dentro de mim , marcas doidas.

A tristeza não me causa dor, me causa tempestades.

A dor vem de graça, com toques pálidos.

Eu queria morrer depois de tudo.

Mas a morte não será o fim.

É só uma reação dolorida depois de tudo.

Mas eu estou aqui, depois de tudo.

Calada, sem voz e sem cor.

Eu perdi parte de mim e deixei que a vida levasse todo resto.

No fim de tudo, sobreviver , foi o que nos uniu para sempre.

Diante da janela eu vivo a te procurar.

Para fugir de você, mas ainda está aqui dentro de mim.

Nos pesadelos, nas constantes inconstâncias.

Sempre presa, atestando a sanidade.

Mas um dia, eu compreendi que nada deve ficar.

Deve ser apenas uma lembrança ruim.

E depois de tudo.

Cresci pensando que o que aconteceu não foi culpa minha.

Foi a sua dor que causou a minha.

Depois de tudo, eu segui em frente.

Mesmo com tudo que ficou... eu ainda estou aqui.



Retrato e relato verbal de alguém que sofreu abuso sexual durante a infância

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A escrita feminina


 

O que nos difere uns dos outros? 

O que é normal em meio tantas diferenças?

Nos fazemos tantas perguntas e raramente obtemos as respostas prontas sem nenhum tipo de reflexão, durante uma oficina de escrita criativa com um professor incrível chamado Bernardo Lopes aprendi que escrever não é apenas algo que nos aprimora a alma mas é o que nos conectam uns com os outros, e é isso que nos tornam humanos e sensíveis ao que sentimos e compartilhamos.

Nós mulheres escrevemos com uma naturalidade que nos é própria e somos capazes de transcrever o que a nossa alma anseia em dizer, o que nos tornam normais senão o nosso corpo físico moldados como humanoides , o resto são as diferenças, o que difere são as nossas habilidades individuais e nosso modo de pensar ,apenas nos cabe a empatia , não é muito difícil tentar entender uns aos outros, o difícil é aceitar essas mesmas diferenças , porque somos humanos em aperfeiçoamento e o que nos fere, rejeitamos , o que é complicado é exatamente saber o por quê isso nos fere.

Reconhecer a nossa história feminina, entendê-la e buscar essa história onde não está escrito nos nossos livros é muito importante porque a maioria de nossos conhecimentos femininos foram assimilados através da oralidade já que as mulheres foram proibidas de publicar e expandir esses conhecimentos pelo simples fato de sermos mulheres e a insistência do patriarcado em nos calar e nos excluir dessa história.

A escrita feminina tem crescido de uma maneira brilhante e significativa, todas as nossas gerações ligadas por linhas e palavras que nos fortalecem e nos reconhecem como influenciadoras, isso é de extrema importância porque criamos uma irmandade forte e que se desenvolve a partir de lutas constantes.

Quando falamos de feminismo falamos também da nossa luta interna e de como foi difícil juntar tudo que conseguimos juntar e compartilhar com todas nós, por isso a nossa literatura feminina ela atinge tantas mulheres e tem alcançado tantas outras, porque nos acolhemos e nos enxergamos uma nas outras, e esse movimento tem crescido de uma forma consistente e compreensível já que foram séculos nos preparando para atingirmos esse reconhecimento.

As escritas femininas não só retratam pensamentos, uma filosofia única de empatia e de valorização dessa energia feminina, a escrita feminina trás a eloquência, a generosidade do compartilhamento, da necessidade de expansão sem nenhum egoísmo ou sentimento de superioridade, a escrita feminina trás a maturidade da maternidade, a conexão de todas nós, a escrita feminina é poética em todos os sentidos.

A escrita feminina é de uma qualidade genuína e clara , porque atende aos corações em diversos pontos de vistas e a mudança sem julgamentos, estamos sempre nos aperfeiçoando porque ninguém deve crescer sozinho, a humanidade é continuada por esse guardar de todos nós. 


A beleza e a grandeza do espírito

 



 Em muitos momentos nos encontramos em situações estranhas nos levando a pensar em coisas que antes nos pareciam impossíveis, há muitas histórias dentro de nós que guardamos em segredo, deixamos florescer dentro de nós ideias e o nosso mundo começa a transbordar mais cores e um suave perfume de coisas boas vindo por aí.

Nem sempre vamos estar nos nossos melhores dias e nem nos piores dias de nossas vidas, até porque, a vida sempre nos surpreende, não importa o tempo que gaste, a gente sempre encontra um jeito de viver algo inesperado, não há limites para as novas descobertas e deixamos simplesmente que a vida nos mostre o melhor de tudo.

A grandeza de nosso espírito está em amar, nada mais, e a nossa inferioridade está sempre voltada às nossas sombras, aquelas que nos levam ao pensamentos que ferem e que destrói , deixamos de crescer quando nos negamos a aprender e não é a idade que reduz a imaturidade, a maturidade se faz com experiência e o saber.

Escondemos uns dos outros as nossas imperfeições porque sabemos que não é agradável e deixamos que elas ficam escondidas e quando resolvemos entendê-las, elas se transformaram em monstros dentro de nós que alimentamos devagar porque nos esquecemos de olhar para elas para domá-las ou mesmo neutralizá-las, e então, surgem os problemas que elas trazem, elas se assemelham a pragas que vão nos tomando e precisamos arrancá-las pela raiz, por isso é preciso olharmos diretamente para elas sem medo e encarar a missão de compreender que todos nós nos aperfeiçoamos ao diminuir as nossas imperfeições por meio de uma reforma íntima , nós nos tornamos melhores quando nos olhamos com humildade e respeito.

Escrevemos num livro mágico as nossas vivências e nos escondemos nos contos de fadas porque temos vergonha de atos que deixa em evidência as nossas imperfeições, mas não são imperfeições físicas, são as nossas imperfeições morais, a beleza física não está intimamente ligada a moral, é destoante e estranha de enxergar.

A beleza é a leveza do espírito em evidência, é o gerar de generosidades, é a doçura das palavras e a dureza quando é permitido, é quando o espírito se ilumina e se torna visível ao olhar atento de alguém.

Somos belos quando nos tornamos bons e gentis, e isso faz parte de um aperfeiçoamento moral , não se torna belo em segundos, a beleza se processa ao longo do pensar nobre e sincero.

O que nos tornam "feios" é o oposto de tudo que é agradável, é o ser que ignora a beleza dos outros e se vê permanentemente em primeiro lugar, é o ser egoísta e orgulhoso e trás consigo a rudeza do espírito.

A beleza está sempre na pureza do nosso olhar, porque este é proporcional ao que chamamos de belo, quer dizer, o que é belo para mim talvez não seja belo para o outro, e assim as diferenças nos tornam mais toleráveis, a beleza está em quem olha e não no foco da visão, portanto, o que é belo é o que nos causa prazer e bem estar, o que nos conforta e o que nos motiva aos sorrisos , às lágrimas emocionadas em ver algo que nos aquece o coração, tudo é belo quando estamos dispostos a olhar com um sentimento de gratidão e de generosidade.

O ser humano que busca servir é o ser que se humaniza e não se tortura por isso, ele se atreve a perceber seus erros e acertos e se aprimora sem ser tão cruel consigo mesmo, ele é sempre empático e se corrige quando se vê com detalhes.

É preciso ter coragem para negar as facilidades da vida, é preciso coragem para se desviar das coisas que nos proporcionam apenas prazeres materiais  levando em consideração apenas os sentidos primitivos, enfim, somos humanos e temos a necessidade de nos amarmos.

A doçura e a meiguice de nossas ações nos aproximam do que é belo e nos faz entender o que é não é positivo acaba nos levando um certo desvio e depois vamos retornando para o nosso estado natural, enfim, sempre estaremos buscando o que nos auxiliam em nosso crescimento.

Se eu pudesse comprar o tempo...

 




Se eu pudesse comprar o tempo paralisaria tantos momentos só para sentir o sorriso de quem já partiu, dos momentos inesquecíveis que o desapego se tornou raro e difícil.

Eu deixaria que a chuva mais tempo no meu corpo só para sentir a sensação de estar sendo banhada pelo céu, eu deixaria pausado todos os instantes em que o nervosismo e a impulsividade tomou conta dos meus sentidos.

Eu desapegaria o mais rápido possível das tempestades de existiram dentro de mim e que me fizeram ter medo.

Apressaria aquela conversa que eu deixei para trás porque eu não sabia o que dizer.

Pegaria na mão de quem eu deixei passar por despercebida, talvez eu usasse meu dinheiro para comprar o tempo das pessoas mais importantes na minha vida e fazer com que elas permanecesse mais um minuto comigo.

Se eu pudesse comprar o tempo faria com que as estrelas brilhassem mais quando eu estivesse contemplando-as ao lembrar de alguém  e que naquele exato momento este alguém estaria olhando para elas e se lembrando de mim.

Bastaria um segundo comprado para uma despedida mais marcante e de um olhar ou um beijo mais demorado.

Compraria horas para permanecer ao lado de quem eu não veria nunca mais e esse tempo eu seria mais dócil e gentil.

Compraria dias para uma viagem com meus pais para um lugar exótico e descansaria na rede para uma conversa boba com eles até que os dias terminassem e eu pudesse também paralisar esses momentos.

Deixaria avançar as dores, as perdas que pareciam doer mais do que qualquer outro machucado, deixaria de responder algumas questões que me levaram muito tempo e eu ainda não obtive resposta, deixaria isso com o próprio tempo querendo me servir de sua generosidade.

Buscaria avançar um dia chato sem me arrepender disso, me custaria mais dinheiro, mas eu avançaria algumas conversas desagradáveis.

Usaria cada segundo comprado para um abraço mais apertado e uma música nunca deixaria de tocar só para me lembrar dos sentimentos que ela me causa.

Eu usaria todo meus minutos para que o último suspiro nunca chegasse ao fim, mas eu não poderia deixar que ele se estendesse tanto, porque o tempo é dono dele mesmo.

Carregaria no colo os meus filhos por mais tempo e o seus banhos seria tão demorados e fartos como as chuvas de verão, seriam cada abraço algumas horas do meu tempo e eu poderia nina-los até que eu percebesse que o tempo precisasse avançar para que eles pudessem viver aproveitando seu próprio tempo.

Se eu pudesse comprar o tempo eu me esqueceria de coisas que não faziam diferença mas que me ocupou tempo demais.

Deixaria para trás os lugares sombrios e me ocupasse apenas do paraíso, passaria mais tempo com meus pais e filhos, irmãos , tios e primos, e deixaria a fofoca dos vizinhos para eles perderem tempo com eles mesmos.

Avançaria as redes sociais para que eu não me apegasse as coisas tão efêmeras e sem sentido.

Não me preocuparia com o envelhecimento e nem me deixaria levar pelas lágrimas que permaneceram em mim e me irrigaram me fazendo reviver passados que não voltam e outros momentos que nem deveriam ter existido.

Se eu pudesse comprar o tempo, eu exigiria do mundo um pensamento mais humano, mas esse tempo não poderia ser só meu, então, eu compraria os momentos em que tudo era maravilhoso e sem problemas e para falar a verdade, eu teria aprendido pouco não é?

Se eu pudesse comprar o tempo permaneceria diante do horizonte imaginando como seria o outro dia ao lado de quem se foi de repente e numa maneira de tornar a velhice de alguém mais leve e que por um instante apenas prevenir um desastre, talvez salvaria vidas indefesas e teria mais tempo para convencer alguém que amar é evitar mágoas, evitaria um suicídio ou uma viagem sem volta.

Se eu pudesse comprar o tempo tentaria usá-lo com mais sabedoria, mas pensando bem, há muitas coisas que o tempo não pode resolver com a pressa que exigimos ou com a parada inesperada dele, é bem possível que o tempo seja apenas um recurso divino para nos apreciarmos por dentro e nos recorrermos a reflexão do que fazemos de nossas vidas enquanto caminhamos , enquanto estamos vivendo não nos apegamos tanto a esse tempo, deixamos tantas coisas passaram por despercebidas e nos arrependemos de um tempo que não soubemos viver e nessa ânsia de acertar sempre, erramos.

Quando se pensa no tempo acreditamos que ele seja tão grande mas na verdade, ele é uma eternidade, uma linha contínua de vida mas não é uma linha reta, às vezes andamos curvados, damos nós e criamos expectativas que nos deixam egoístas e ignoramos que todos nós usamos o tempo de todo mundo , porque nós permanecemos na vida das pessoas mesmo quando não estamos fisicamente ao seu lado, usamos o nosso tempo acreditando que ele é algo que acaba mas não é verdade, nós nos compartilhamos, nas memórias, nos sentimentos, emoções, estamos tão pertos uns dos outros, não existe esse limite de tempo ou de espaço porque todos nós estamos num mesmo lugar, só nos apegamos a distância física mas o que realmente existe é a falta habilidade em usar melhor toda essa eternidade, ao invés de lamentar precisamos apenas nos atrevermos a gastar a nossa energia em apertar ou afrouxar as nossas relações, porque essa energia que temos é o que nos conecta uns com os outros , é o que nos fazem pensar em usar essa eternidade ao lado de quem amamos, é ajudar os outros para que tudo fique bem.

Por mais que sejam apreciáveis as teorias sobre o tempo, o tempo é sempre algo abstrato porque o vemos apenas as nossas ações, a simples e autêntica lei que rege o Universo , que a lei da causa e efeito, esse é o uso do tempo, esse é o único instante em que o tempo pode ser visto com mais clareza e permanência, porque é relativo, tudo é relativo.

A vida tem as suas curvas, as suas ladeiras e atalhos e mesmo que achamos que estamos economizando tempo, estamos apenas vivendo sob um outro olhar, ou seja, fizemos uma escolha, só isso... O tempo é esse uso da liberdade, esse uso constante da nossa liberdade de escolha, podemos escolher um caminho onde as coisas pareçam mais fáceis então temos uma falsa ideia de que o tempo foi rápido na verdade optamos pela facilidade de resolução ,é só uma questão de escolha.

O tempo só passa a existir quando fazemos dele uma chave, um limite, ou qualquer outra coisa que nos discipline, no final das contas, tudo passa pela criação mental de todos nós para nosso próprio uso.

Ao pensarmos no tempo, pensamos na vida e em seu processo visível mas o tempo vai além disso, porque como o tempo é a eternidade deixamos de perceber que a vida nunca termina, ela simplesmente se transforma em outra coisa, ela não é sempre a mesma coisa, a cada segundo tudo muda porque há um movimento e esse movimento nos faz pensar no tempo como algo que começa e termina com a morte, mas o tempo é a eternidade, é o eterno recomeçar, é a vida eterna e por isso que dizemos que o tempo não existe, ele apenas insiste em nos orientar, como o relógio na parede, ele nos facilita a disciplina e nos motiva a pensar que haverá sempre um dia depois de hoje!!