Depois de tudo, os meus olhos ainda estalam.
A minha boca se cala, e as minhas dores ainda estão aqui.
Presa nas lembranças, nas palavras que não foram claras, elas apenas estão guardadas.
Um crime , uma dor que não se cala dentro e fora de mim.
Suas mãos ainda me machucam e me prendem à um passado que não é bom.
Sentada na beira do caminho, eu procurei a culpa dentro de nós dois.
Mas a sua culpa ainda me atormenta.
Os pesadelos não cessam e me calo diante das lembranças que eu deixei ficar.
Não me culpo pela revivência , ela é o que me mantém acordada.
Triste e só.
De olho no canto da parede.
Meus passos longos que os seus passos alcançaram.
Deixou dentro de mim , marcas doidas.
A tristeza não me causa dor, me causa tempestades.
A dor vem de graça, com toques pálidos.
Eu queria morrer depois de tudo.
Mas a morte não será o fim.
É só uma reação dolorida depois de tudo.
Mas eu estou aqui, depois de tudo.
Calada, sem voz e sem cor.
Eu perdi parte de mim e deixei que a vida levasse todo resto.
No fim de tudo, sobreviver , foi o que nos uniu para sempre.
Diante da janela eu vivo a te procurar.
Para fugir de você, mas ainda está aqui dentro de mim.
Nos pesadelos, nas constantes inconstâncias.
Sempre presa, atestando a sanidade.
Mas um dia, eu compreendi que nada deve ficar.
Deve ser apenas uma lembrança ruim.
E depois de tudo.
Cresci pensando que o que aconteceu não foi culpa minha.
Foi a sua dor que causou a minha.
Depois de tudo, eu segui em frente.
Mesmo com tudo que ficou... eu ainda estou aqui.
Retrato e relato verbal de alguém que sofreu abuso sexual durante a infância
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